Este texto, interessante e bastante útil, de Luís Barbeiro aborda as questões do processo de escrita e a relação desta com o próprio sujeito. No início do texto, o autor relata algumas experiências que vivenciou na sua infância, afirmando que estas foram as principais responsáveis pelo seu enorme fascínio e curiosidade do ato de escrever, levando-o a questionar-se sobre o que é escrever? Como se aprenderá a escrever? Como poderão as pessoas desenvolver as suas capacidades e conhecimentos através da escrita?
Na verdade, estas questões fazem todo o sentido ao serem colocadas, pois como é que a escrita acontece? Como se desenrola este processo? Pois é, todos sabemos que o texto (produto) não pode existir sem o processo, é aqui, nesta fase tão importante, que o sujeito pode tomar as suas decisões. Pode decidir que caminho quer seguir, sobre o que deseja escrever, como o escrever, tendo sempre a liberdade de refletir e de reformular aquilo que vai escrevendo. Como tal, este autor, através de um estudo, tentou perceber como é que o processo de escrita vai evoluindo ao longo da escolaridade e que relação têm os alunos com o próprio processo. Será que o compreendem?
Para este estudo, a população escolhida foi a população escolar integrada no ensino básico, sendo que foi constituída uma amostra dos 2.º, 4.º, 6.º e 8.º anos de escolaridade pertencentes a escolas da zona de Leiria. Assim, no âmbito das turmas, foram formados grupos mistos de 3 elementos. A tarefa que estes grupos tinham de desempenhar consistia num relato ficcionado de uma visita a Leiria. É ainda importante salientar que foram estudados oito grupos em cada ano de escolaridade (trinta e dois grupos ao todo).
Para compreender este estudo a presença das componentes de planificação, redação e revisão no processo de escrita foram fundamentais.
Então, mas afinal quais foram ao certo os resultados do estudo?
Pois é, na verdade os resultados foram bastante interessantes. No que diz respeito aos processos de planificação e redação verificou-se que os alunos, com a progressão no nível de escolaridade, ocuparam mais tempo com a planificação enquanto que na redação ocorreu exatamente o contrário. Ou seja, os alunos que dedicaram mais tempo à planificação (neste caso o 8.º ano) demoraram menos tempo na elaboração da redação. O que acontece aqui é que esta rapidez na redação não se resume apenas à capacidade de redigir mais depressa, a fluidez que o aluno vai adquirindo, com toda a sua experiência, ao longo dos anos vai fazer com que a redação se torne num processo mais simplificado.
Para além destas observações, também foram feitas constatações relativamente às palavras, isto é, em que medida é que estiveram presentes em todo o processo outras palavras para além daquelas que ficaram no produto final. Na verdade, o que se verifica é que muitas palavras permanecem no produto final, mas muitas delas são substituídas. Assim, pode-se com certeza concluir que o processo de escrita não é apenas um somatório de palavras em que nos dedicamos a preencher as folhas em branco, tornando o texto cada vez maior, antes pelo contrário. Este processo é muito mais do que isso. É aqui que se encontra a profundidade da escrita, a possibilidade que temos em refletir, em repensar, modificar, reformular. É a nossa capacidade de considerar novas relações, de darmos “asas” à nossa criatividade, de adaptar o texto às nossas intenções e a determinados contextos e destinatários. É isto que é o verdadeiro sentido da profundidade do processo de escrita. No entanto, quanto maior é a profundidade maior é a sua complexidade, pois a existência de mais alternativas exige uma grande capacidade de decisão, sendo que o produto final de um texto nunca poderá ser um “amontoado” de versões, mas sim, a versão, única e completa. Assim, é a profundidade que desencadeia novas alternativas, novas relações, novos caminhos seguindo sempre de mãos dadas com a reformulação e a reflexão.
Voltando à questão inicial que implicou todo este estudo: Qual o tipo de relação que os alunos têm com o processo de escrita? Devido à complexidade deste processo poderá ocorrer o risco de os alunos ficarem um pouco “traumatizados” devido às dificuldades que poderão ter de enfrentar, no entanto muitas poderão ser as estratégias que levarão os alunos a ter uma melhor relação com a escrita.
Finalmente, ainda no âmbito do mesmo estudo, foi colocada aos alunos a seguinte questão: O que consideram mais importante para escrever bem? Sendo que a resposta que mais se observou foi que para se escrever bem é necessário ter gosto pela escrita e isso, na minha opinião, é algo que pode, com certeza, ser trabalhado de forma motivadora e criativa.