Como sabemos, o processo da leitura é bastante complexo e moroso e requer motivação por parte do aprendiz. Assim, este processo é algo contínuo e que nos acompanha sempre nas nossas vidas, a partir do momento em que dominamos a tradução dos sons em letras. Como refere Inês Sim-Sim, “saber ler significa, fundamentalmente, ser capaz de extrair informação do material escrito, qualquer que seja o suporte, qualquer que seja o tipo de texto e qualquer que seja a finalidade da leitura, transformando essa informação em conhecimento”. Esta capacidade de transformar informação em conhecimento denomina-se literacia e é fundamental para que consigamos compreender o mundo e é esta capacidade que, muitas vezes, nos falta.
No que diz respeito à atividade docente, para ensinar a ler há que dominar a língua que se ensina a ler e, por isso, o formando terá de ter uma formação adequada e, como tal, há que ter em conta três aspetos fundamenais: os seus conhecimentos sobre a leitura, a informação teórica fundamentada em dados de investigação e experiências refletidas de ensino da leitura. Só assim conseguirá obter uma boa formação para o ensino da leitura.
Aprender a ensinar não é tarefa fácil e é um processo de dupla face, uma vez que tem de se saber lidar com a aprendizagem daquele que aprende a ensinar e daquele que se ensina (aluno). Por este motivo, a reflexão daquilo que se ensina é algo bastante importante e deve ser contínuo.
Um dos obstáculos que se pode encontrar durante o processo do ensino da leitura é perceber quais os conceitos de leitura que os formandos possuem, uma vez que estes poderão ter noções completamente erróneas do que é a leitura e assim, o que poderá acontecer é que o que aprenderão sobre leitura será construído sobre um conhecimento prévio enviesado, ficando sempre com noções erradas deste processo. Como tal, um dos passos importantes que os formandos terão de dar é reformular o conceito que possuem sobre leitura. Para ensinar a ler, têm de ser também autónomos, confiantes e eficazes, utilizando sempre estratégias pedagógicas, de forma a conseguirem alcançar os objetivos pretendidos.
Desde modo, são imensos os conteúdos que os formandos terão de aprender, dando especial importância à emergência da leitura, à importância do conhecimento do princípio alfabético e a ensinar a compreender. Assim, é necessário formar um professor que consiga ajudar a criança a criar estratégias de automonitorização de leitura para que esta possa retirar do texto um sentido tão profundo quanto possível, enraizando hábitos de leitura, despertando o gosto pela mesma.
É ainda importante referir que para saber ensinar, o professor necessita ter uma permanente atualização teórica, baseada na investigação e na reflexão, não esquecendo a sua prática. Assim, como nos diz a autora “ será importante ajudar os formandos a articular um conjunto de informações teóricas, oriundas de vários domínios – do estudo da língua ao desenvolvimento cognitivo e linguístico, dos processos gerais de aprendizagem à organização do currículo – e a sedimentar toda a informação sobre a leitura e o respetivo ensino com atividade de cariz prático”. Desta forma, a diversidade de situações de prática fará com que o formando tenha a oportunidade de planear, organizar, executar e avaliar atividades de acordo com as diferentes fases de aprendizagem da criança.
Assim, ensinar a ler deverá ser um grande desafio, mas ensinar a ensinar a ler deverá ser um desafio ainda maior, pois formar professores para ensinar a língua materna, de escolarização ou de acolhimento a todos os alunos não deve ser tarefa fácil.
No entanto, como Inês Sim-Sim refere “ a jornada é árdua, mas não é impossível”. E eu acredito nela.