Este artigo de Ana Cristina Silva remete-nos para questões fundamentais sobre a aquisição da literacia. Assim, uma das grandes problemáticas que está no âmbito desta aquisição é “perceber porque é que para algumas crianças é tão fácil aprender a ler, independentemente do método de ensino utilizado na escolarização formal, enquanto para outras, mesmo quando submetidas a vários tipos de estratégias pedagógicas, o domínio da leitura parece constituir um obstáculo intransponível?” Pois é, na verdade é realmente isto que acontece, mas porquê? A autora explica que estas diferenças individuais podem estar relacionadas com as oportunidades que estas tiveram ou não ao longo dos anos pré-escolares e também nos seus contextos familiares, pois é aqui que as crianças estão em contato com a linguagem escrita e é também onde é estimulada a linguagem oral, aprendendo as funções culturais do ato de ler, percebendo que existem diversas estruturas associadas a diferentes suportes de escrita, compreendendo que diferentes formas gráficas correspondem a diferentes palavras e significados, entre muitas outras noções básicas que a criança deve ir adquirindo. Assim, de acordo com as perspetiva da literacia as crianças, desde cedo, estão envolvidas num processo relacionado com a aquisição da mesma que fará com que o seu percurso se torne melhor ou pior relativamente à reflexão de categorias linguísticas, como palavra-fonema. No entanto, sabemos que existem crianças que, mesmo estando diariamente em contato com a linguagem escrita, não conseguem chegar à descoberta do princípio alfabético (noção de que todas as palavras são representadas por letras e que estas codificam os fonemas). Tal acontece devido à grande complexidade deste princípio, pois para a criança é difícil realizar uma representação alfabética da escrita, uma vez que terá de ter a capacidade de relacionar competências de análise explícita das palavras nos seus segmentos fonémicos com conhecimentos relativos aos nomes das letras. Como tal, para esta autora, a consciência fonológica é uma competência fundamental para o entendimento deste princípio. Assim, esta consciência terá de ser treinada através de jogos de rimas, de análise e manipulação dos componentes orais das palavras, só assim a criança poderá começar a questionar-se sobre as relações que existem entre o oral e o escrito podendo, ante do ensino formal, começar a ter tentativas de escritos.
Para Ferreiro (2008) citado por Ana Cristina Silva, existem três níveis essenciais de concetualização da escrita: um primeiro nível, quando as crianças têm necessidade de diferenciar os elementos icónicos, pertencentes ao desenho, dos elementos das palavras; um segundo nível, quando tentam fazer uma diferenciação na representação das diferentes palavras; e um terceiro nível que ocorre quando as crianças já relacionam as letras com os segmentos silábicos das palavras. De acordo com o texto, o incentivo destas escritas inventadas e as suas reflexões, juntamente com a criança, são fundamentais para que ela, gradualmente, consiga compreender o princípio alfabético o que vai fazer com que, mais tarde, já lhe seja mais fácil dominar a leitura e a escrita.
Contudo, a autora do texto refere que grande parte das escolas são responsáveis por esta não aquisição do princípio alfabético por parte de muitas crianças, uma vez que não consideram importante a elaboração de atividades orientadas para a apropriação da lógica alfabética, antes e no decurso do ensino formal da leitura e da escrita.